Esta é a segunda edição do livro "Por uma sociologia pública", que a Alameda tem a honra de republicar. Trata-se de um livro fundamentalpara pensar os limites e potências da sociologia em geral e dasociologia pública em particular.

Michael Burawoy e Ruy Braga,nos ensaios aqui reunidos, demonstram um compromisso profissional esocial com os sentidos do trabalho de fazer e ensinar sociologia. Mais que isso, apresentam questões de princípios e métodos que devem epodem fazer parte do repertório de todo pesquisador da área deciências humanas.

A primeira edição do livro, de 2009, ocorreuquando ainda vivíamos os primeiros efeitos da crise do capital abertaum ano antes. O mundo e o Brasil passaram, então, por ebuliçõespolíticas, algumas de caráter democrático, outras, reacionárias. Foram tempos de conflito e de luta, em que a pauta da sociologia pública se fez necessária e praticada por inúmeros intelectuais da área, muitosdos quais não tinham essa perspectiva como uma urgência, nem adotavamesta definição.

O tempo em que estamos agora, no entanto, ainda não permite dizer que esses conflitos estão superados, pelocontrário, o que torna ainda mais urgente retomarmos o debate, pois asociologia pública mostrou-se um ferramental essencial para oenfrentamento do autoritarismo presente na prática e na teoriapolítica da extrema direita em ascensão.

O leitor deste livrofacilmente reco nhecerá a pertinência e, sobretudo, a permanência dasquestões e proposições aqui colocadas, sem que seja necessário nosestendermos por aqui. Ainda assim, recomendo fortemente a releitura do prefácio que Francisco Oliveira escreveu para este livro. Oliveiradestaca, entre outros aspectos, o uso não ortodoxo do marxismo porBurawoy e Braga, que rejeitam o dogmatismo sem se desfazerem dosalicerces que permitem olhar para a sociologia e para a sociedade numa perspectiva crítica e construtiva.

Trata-se, portanto, de umaobra fundamental, que, oxalá, ganhará com este relançamento uma novageração de leitores não só entre os sociólogos, mas também entre todos os que acreditam no trabalho intelectual como um instrumento detransformação da sociedade a caminho de tempos mais igualitários edemocráticos.

Haroldo Ceravolo Sereza

Neste belo livro,Michael Burawoy e Ruy Braga defendem a sociedade civil como objetivo e campo específico da sociologia. Longe, portanto, de evitar toda"contaminação", e, ao contrário, propondo a interlocução dasociologia com os vários públicos. Uma ciência do social que seimunize contra a sociedade tem tudo para tornar-se academicamenterespeitável e... irrelevante. A "sociologia pública" é o campo dainterlocução da sociologia com o público, os vários públicos, e é daíque ela recebe sua validação social, é aí que ela informa, publiciza,discute, entra em contato, exerce um papel civilizatório.

Francisco de Oliveira


SOBRE OS AUTORES: Michael Burawoy éprofessor do Departamento de Sociologia da Universidade da Califórniaem Berkeley. É autor de Marxismo sociológico, publicado pela Alameda,e de "Manufacturing consent: changes in the labor process undermonopoly capitalism" (University of Chicago, 1979). Ruy Braga éprofessor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo e secretário de redação da revista Outubro. É autor, entre outroslivros, de "A angústia do precariado" (Boitempo) e "A pulsãoplebeia" (Alameda).