Independente e polémico, advogado e barrista nostribunais a tempo inteiro, escritor nos intervalos, porforça dos devaneios da sorte, Pedro Reis traça oretrato singular de uma geração iludida pelas singularidadesda vida, pela evolução de um mundo savessas, refém da submissão aos interesses, pelaimagem de um país em declínio, exposto ao veredictoda menoridade e de uma vila descrente, procurade si própria, entre a fatalidade e a esperança,comandada pela voz de uma casa em frente do mar,vigilante, espera de melhores dias.«Antigamente, eu acompanhava a partida dastraineiras da praia, enfrentando a oposição dacorrente e a rebeldia das ondas do mar, até conquistaremo território que permitia vaticinar o sucessona luta pela subsistência. E assistia ao seu regressoa casa, engalanadas por bandos de gaivotas queanunciavam a boa ventura aos descrentes da faina.Agora não. As traineiras deixaram de partir e o peixedesapareceu do lago, outrora mar. As gaivotas,desorientadas pela provação, sobrevoam osterraços da casa a pedir alimento.»