A literatura portuguesa contemporânea de potencial recepçãojuvenil tematiza multifuncionalmente as questõesrelacionadas com a comunicação interpessoal e intergeracional a vários níveis:por um lado, demonstrando que nem sempre o diálogo entre gerações é possível e/ousignificativo, gerando situações de incomunicabilidade por vezes irreparáveis;por outro,sublinhando que a inoperância da palavra provoca nos sujeitosadolescentes naturais movimentos de retracção e silenciamento, responsáveis emparte pelo percurso de deambulação no interior de si mesmos em busca dasua identidade e de uma maior consciencialização do seu existir. As vozes plurais de um sujeito adolescente arquetípico,frequentemente configurado como um eu exemplar, atravessam os universos textuaisdando conta das suas inquietações de ordem existencial, psico-emotiva erelacional,instituindo-se o recurso à primeira pessoa como estratégiadiscursiva e enunciativa preferencial. Nos seus discursos introspectivos, aspersonagens narrativizam a problemática da constituição do sujeito como seroscilante e dramático, plasmando na superfície textual os meandros da suainterioridade. Mas se o diálogo com os outros se impõe frequentes vezescomo improdutivo, também é certo que a literatura para jovens não apresentaapenas uma visão disfórica relativamente à comunicação interpessoal. Naverdade,avultam nas narrativas literárias dos anos oitenta e noventa do séculoXX situações em que a comunhão empática se operacionaliza, pela palavra epelo silêncio que a emoldura ou que a substitui, em contextos pessoaismarcados pela presença física dos sujeitos e naqueles em que a ausência dooutro potencia o surgimento de uma comunicação à distância mediada pela escrita,que assume desta forma uma função comunicativa preferencial.